Sabe aquele momento em que a gente quer começar um projeto novo, um sonho antigo ou simplesmente colocar uma ideia pra rodar, mas parece que tudo trava? Pois é. A famosa “síndrome da perfeição” diz: “você ainda não está pronta”. E lá vamos nós acreditar.
A gente se convence de que precisa ter o material certo, o tempo ideal, o cenário perfeito, o humor no ponto e, a quantidade exata da motivação (mal sabemos que em muitos dias, a motivação passa longe!). Só que, entre querer e começar, mora um abismo cheio de “depois eu vejo”, “quando eu tiver tempo”, “quando eu souber fazer melhor”. E, sinceramente, esse “depois” costuma demorar uma vida inteira.
Quando eu mesma travei
Eu sei bem como é isso. Durante sete anos, trabalhei pra mim mesma no Brasil. Era dona do meu tempo, dos meus prazos e dos meus surtos criativos (não que seja um mar de rosas). Eu sabia o ritmo das minhas ideias e conseguia transformar bagunça em resultado. Mas, quando cheguei em Portugal, tudo virou de cabeça pra baixo.
De repente, me vi de volta ao mercado de trabalho formal. Nova cultura, novas pessoas, novo ritmo. E, claro, aquela velha amiga: a pressão. Não somente dos outros, mas principalmente de mim mesma. Eu vivia com a sensação de que precisava provar o tempo todo que era boa o suficiente.
E, olha, isso é exaustivo. Eu estava tão preocupada em ser perfeita que esqueci como é ser apenas humana.
No fundo, eu achava que, se errasse, iam pensar que eu não merecia estar ali. Essa cobrança constante me deixou ansiosa e com medo de falhar. E o medo é um ótimo bloqueador de ideias, viu? Ele não só atrasa a vida como faz a gente duvidar daquilo que já sabe fazer.
A vida deu um jeito de me ensinar
Há cerca de um ano, comecei a trabalhar numa nova empresa. A cultura era totalmente diferente. Logo nas primeiras semanas, ouvi algo que me desmontou por dentro:
“Relaxa. A vida não é uma corrida.”
Demorei pra entender o que isso realmente significava. Porque, pra quem vem de um ambiente em que estar sempre “fazendo” é sinônimo de valor, desacelerar soa quase como fracasso. Mas, aos poucos, fui percebendo que talvez a pressa e a perfeição não fossem sinais de eficiência, e sim de exaustão disfarçada.
Comecei a respirar mais fundo. A entregar as coisas do jeito possível, e o mais curioso? A qualidade do meu trabalho não caiu. Pelo contrário. Melhorou.
O feito é melhor que o perfeito
Quando a gente para de se cobrar tanto, a criatividade volta a fluir. Aí a gente começa a perceber que o feito é melhor que o perfeito não é só uma frase clichê.
Porque, no fim das contas, essa busca constante pela perfeição é só um jeito bonito de dizer “eu tenho medo”. Medo de ser julgada. Medo de falhar. Medo de não ser suficiente. Mas a verdade é que ninguém começa pronto. E tudo o que parece “perfeito” nos outros, na verdade, é só o resultado de muitas tentativas, erros e aprendizados. A gente se compara tanto com a fase avançada dos outros que esquece de respeitar o nosso próprio começo.
A verdade é que o mundo não precisa da sua versão impecável. Precisa da sua versão presente. Aquela que tenta, que erra, que volta e faz de novo. Aquela que começa sem saber direito o que tá fazendo, mas faz mesmo assim.
Porque a perfeição paralisa. A possibilidade movimenta.
E quando a gente entende isso, parece que uma chavinha vira na cabeça. Tudo começa a fluir de um jeito diferente. A vida continua sendo caótica, claro. Mas o caos deixa de ser inimigo e passa a ser parte do processo.
O “feito é melhor que o perfeito” virou meu lembrete de tela mental. E não, não quer dizer fazer de qualquer jeito. Quer dizer fazer o possível com o que se tem. E, acredite, o possível já é muito.
Sabe o que muda quando a gente para de buscar perfeição? A leveza. As coisas ficam mais verdadeiras. Você para de se esconder atrás da desculpa de que “ainda não está pronta” e começa a aparecer de verdade.
A vida não espera você se sentir preparada. Ela acontece. Entre uma pausa e outra, entre uma tentativa e um erro. E é nesse meio do caminho que a mágica acontece.
Então, se você também tá aí, parada, esperando o momento ideal, deixa eu te contar um segredo: ele nunca vai chegar. O momento certo é agora. Do jeito que dá. Com o que você tem.
Comece o projeto. Compre a passagem. Grave o vídeo. Envie o currículo. Posta a foto. Respire fundo e vai.
E se der medo, vai com medo mesmo. Só não deixa o medo te convencer de que você precisa ser perfeita pra começar.
Porque você não precisa.
Você só precisa ser possível.
E, no fim das contas, ser possível é muito mais transformador do que ser perfeita.
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